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Guilherme Rambo

Jailbreak: você pode driblar o iOS para ter o iPhone ideal; veja os riscos

Guilherme Rambo

13/02/2020 04h00

Adrianna Calvo/ Pexels

Jailbreak sempre foi um assunto relativamente polêmico na comunidade de usuários de iPhone. Logo quando o primeiro iPhone foi lançado, existia um desejo grande por parte de desenvolvedores de criarem seus próprios apps nativos para o smartphone, enquanto a sugestão da Apple era de que fizessem web apps, com HTML e Javascript.

Não demorou muito para que hackers muito espertos conseguissem quebrar a proteção de código do iPhone, permitindo que qualquer app fosse executado no aparelho, mesmo aqueles sem a "benção" da Apple. Além disso, naquela época o iPhone era limitado a apenas algumas poucas operadores — inicialmente só uma — então a única forma de muitos poderem usar o dispositivo era através do jailbreak e desbloqueio.

E foi aí que começou a briga de gato e rato, uma briga que persiste até os dias de hoje: hackers encontram uma falha que permite burlar a segurança do sistema, Apple corrige a falha, hackers encontram outra falha, e por aí vai.

O que é jailbreak?

Jailbreak não é uma única coisa. Existem diversos projetos diferentes de jailbreak, cada um com seus recursos específicos, mas de um modo geral, o que um jailbreak faz é relaxar as limitações do iOS — que existem para garantir a segurança do sistema — permitindo modificações que são impossíveis de fazer no sistema original.

Para entender isso um pouco melhor, preciso explicar como funciona a App Store, que é de onde nós geralmente obtemos os apps que usamos.

Na sua configuração original, o iOS só permite a execução de aplicativos assinados com um certificado da própria Apple. É como se cada app que roda no seu aparelho tivesse uma assinatura reconhecida em cartório que garante a sua origem, que na enorme maioria dos casos é a App Store.

Mas se a maioria dos apps na loja virtual são de outras empresas ou desenvolvedores independentes, como que eles são assinados pela Apple? O que acontece é que toda empresa ou pessoa que vai distribuir seus apps na AppStore — seja grátis ou pago — precisa fazer parte do programa de desenvolvedores da Apple.

Entre outras coisas, esse programa dá acesso a um certificado digital que o desenvolvedor usa para assinar seus apps na hora de enviá-los para a Apple. O app então passa por uma revisão rigorosa e só então pode ser visto pelos usuários na loja. Dessa forma, toda a "cadeia de produção" tem garantia de origem: o desenvolvedor assina o app na hora de enviar para a Apple, que após validar a sua integridade coloca sua própria assinatura, só então aquele app poderá ser usado num dispositivo iOS.

Esse sistema obviamente não é perfeito. Às vezes alguns apps maliciosos acabam passando sem serem bloqueados pela revisão da Apple. Porém, quando um desses apps passa, a empresa tem o poder de bloqueá-los instantaneamente, graças à assinatura digital.

Voltando então para o que um jailbreak faz: basicamente ele remove essa limitação, permitindo a execução de programas com qualquer assinatura de código, não somente a da Apple.

A maioria dos jailbreaks também inclui uma App Store alternativa, a mais famosa delas é o Cydia, que permite o cadastro de diferentes repositórios de aplicativos e tweaks (pacotes que modificam o comportamento ou visual do sistema).

Quais são os contras de usar um jailbreak?

Os contras são numerosos. O primeiro e mais importante é o fato de ao aplicar um jailbreak você estará reduzindo o nível de segurança do seu aparelho. Por esse motivo, eu não recomendo a ninguém que faça jailbreak no seu aparelho pessoal, ou qualquer aparelho que esteja logado no seu Apple ID. Não quer dizer que só de fazer um jailbreak você terá sua conta automaticamente comprometida, mas a prática certamente aumenta as chances disso acontecer.

Segundo, dependendo do tipo de modificação que você fizer no seu sistema, ele pode se tornar bastante instável, com travamentos frequentes, além de aumentar muito o uso da bateria, reduzindo assim sua vida útil. Esse problema não é tão grave, já que é possível instalar e remover modificações do sistema livremente, então se alguma estiver causando problemas, basta remover.

Terceiro, nenhum jailbreak que está disponível atualmente para aparelhos e versões mais recentes do iOS é persistente. Isso quer dizer que todos eles precisam ser aplicados novamente sempre que o aparelho for reiniciado, o que pode ser bastante inconveniente.

Por último, mas não menos importante, alguns jailbreaks deixam de funcionar se você atualizar a versão do iOS. Sendo assim, você acaba ficando de fora das novidades e deixa de receber atualizações de segurança importantes e correções de bugs. Além disso, muitos apps — principalmente os de banco — bloqueiam o uso em aparelhos com jailbreak.

O que dá para fazer?

Agora que você já sabe o que é um jailbreak e quais são os contras, vamos ver uma seleção de coisinhas legais que dá para fazer no seu aparelho quando você tem um jailbreak instalado.

  • Rodar apps de iPad no iPhone

Existem muitos apps que são exclusivos para iPad, sendo assim não podem ser instalados em iPhones. Um exemplo famoso é o Photoshop, existe também o Swift Playgrounds da Apple. Mas para quem só tem iPhone e quer rodar alguns desses apps nele, existe um tweak para isso: iPadify.

Esse tweak foi desenvolvido por mim e está disponível no repositório Packix, podendo ser instalado através do Cydia ou outro gerenciador de pacotes. Após a instalação dele, é possível instalar apps de iPad através do iTunes, Finder no Catalina ou apps tipo iMazing.

  • Picture-in-picture no iPhone

Outra funcionalidade do iPad que esse tweak disponibiliza no iPhone é o picture-in-picture. Desta forma, dá para assistir um vídeo no canto da tela enquanto você continua navegando no celular.

  • Customizar visual

Existe uma infinidade de temas que podem ser instalados em dispositivos com jailbreak. O nível de customização vai desde a instalação de fontes diferentes, até mudança nos ícones e visual de outros componentes do sistema.

Para quem ainda está no iOS 12, o Noctis12 libera o modo escuro, que foi lançado pela Apple somente no iOS 13.

  • Animações para carregamento sem fio

Quem lembra do anúncio do AirPower — projeto fracassado de carregamento sem fio da Apple — deve se lembrar das animações 3D que apareceriam na tela do aparelho ao ser colocado no carregador.

O tweak Maple — o qual ajudei a desenvolver — implementa essa funcionalidade em todos os dispositivos, seja para carregamento com fio ou sem fio.

E a pirataria?

Sim, jailbreak também permite a pirataria de apps pagos ou a liberação de conteúdo geralmente comprado através de in-app purchase sem pagamento. No entanto, a maioria dos usuários de jailbreak não o faz por esse motivo e a pirataria não é bem vista pela comunidade jailbreak. Repositórios direcionados à pirataria costumam ser banidos rapidamente por agregadores e comunidades de jailbreak nas redes sociais.

Conclusão

Apesar de muitos acharem que a prática já morreu, o jailbreak continua muito vivo e tem vários adeptos. Eu não recomendo a prática a ninguém, a não ser para fins de pesquisa ou simplesmente diversão, sempre em um aparelho secundário.

Sobre o autor

Guilherme Rambo é programador desde os 12 anos. Especialista em engenharia reversa, é conhecido mundialmente por revelar os segredos da Apple antes mesmo dos anúncios da empresa, além de programar para as plataformas da empresa.

Sobre o blog

Dos segredos escondidos nos códigos da Apple às tendências do mundo da tecnologia, o blog Entre Linhas aborda semanalmente os temas mais interessantes e atuais do mercado tecnológico sob o ponto de vista do programador Guilherme Rambo.