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Guilherme Rambo

O que sabemos sobre os Macs com processador Apple na WWDC

Guilherme Rambo

12/06/2020 04h00

Desde o iPhone 4, a Apple tem utilizado seus próprios processadores, baseados na arquitetura ARM, para o iPhone, iPad, Apple Watch, HomePod e a Apple TV. Notoriamente, todos os Macs da empresa continuam usando processadores da Intel, como vem fazendo desde 2005, quando a Apple decidiu migrar do antigo PowerPC para a linha Intel de processadores.

A migração de PowerPC trouxe inúmeras vantagens tanto para a Apple quanto para os usuários. O principal motivo dela na época foi a incapacidade dos processadores PowerPC de entregarem o mesmo poder consumindo a mesma — ou menos — energia que seus equivalentes na Intel. Além disso, o uso de chips Intel trouxe alguns efeitos colaterais úteis, como a possibilidade de rodar Windows nas máquinas da Apple.

Pois tudo indica que estamos prestes a presenciar mais uma migração de processadores na história da Apple. Desta vez, a ideia seria passar a fabricar os Macs também com chips da Apple, abandonando os da Intel — ao menos nos Macs portáteis.

A notícia mais recente foi dada pela Bloomberg, afirmando que a Apple está planejando anunciar a transição durante a keynote de abertura da WWDC, que será no dia 22 de junho. Apesar do provável anúncio ainda neste mês, o lançamento de Macs com processadores Apple deve ocorrer só no ano que vem. Um anúncio com tanta antecedência é necessário para que os desenvolvedores tenham tempo de adaptar seus apps para a nova plataforma, que apesar de ser um processo simples, leva algum tempo.

Como será a transição?

A Apple tem bastante experiência quando o assunto é transição entre arquiteturas de processador –tendo passado por ao menos duas grandes transições na sua história. Todos os seus sistemas operacionais já compartilham muitos componentes internos, sendo assim, o macOS que roda nos MacBooks não é tão diferente do iOS dos iPhones quanto parece na superfície.

Para os desenvolvedores, a tarefa também deve ser simples, na maioria dos casos necessitando apenas de uma recompilação e reenvio para a App Store. A enorme maioria dos apps que usamos no dia a dia não tem nenhum tipo de funcionalidade que seria afetada por uma mudança na arquitetura do processador.

Isso pode ser um pouco diferente para aplicativos mais complexos e antigos, como os da Adobe, por exemplo. Mas, essas grandes empresas de software são parceiras da Apple e certamente já receberam aviso prévio para que possam estar preparadas para tal transição.

Outra dúvida é: se o primeiro Mac com processador da Apple será lançado somente no ano que vem, como os desenvolvedores testarão seus aplicativos compilados para a arquitetura ARM?

Na época da migração do PowerPC para Intel, a Apple forneceu um kit de desenvolvimento que consistia num Power Mac com processador intel, que depois devia ser devolvido para trocá-lo por um iMac "normal", com Intel.

Pode ser que a empresa adote um processo similar nesta nova migração, com algum tipo de Mac (talvez o Mini?) com o processador da Apple, que futuramente pode ser devolvido e trocado então pelo hardware final.

Outra opção seria utilizar hardware já existente, afinal a Apple já vende diversos computadores com processador ARM, especialmente os mais recentes iPads Pro. Apesar da sua memória RAM ser limitada — o que poderia prejudicar os testes — os novos iPads Pro são bastante capazes e poderiam ser usados como um hardware de transição. Novamente, isso seria um recurso apenas para desenvolvedores que desejam testar seus apps, não algo que seria disponibilizado para usuários.

Independentemente de como a empresa escolha realizar os detalhes dessa transição, as chances de ser um sucesso são grandes dada seu histórico com transições até mais complexas.

O que mudaria para os usuário?

Além da questão dos desenvolvedores, Macs com processador da Apple trariam alguns diferenciais também para os usuários.

Começando pela má notícia: Windows. É bastante provável que os novos Macs com processador da Apple não sejam compatíveis com o sistema operacional da Microsoft. Virtualização exige recursos de hardware que os chips que conhecemos da Apple até hoje não possuem e, apesar de existir um Windows para ARM, ele é muito limitado quando comparado à sua versão para processadores Intel.

Mas tirando essa má notícia, as demais são bastante animadoras. Os processadores da Apple que dão vida aos iPhones e iPads mais novos são extremamente rápidos e eficientes, ainda mais considerando o fato de serem processadores para dispositivos que são usados na bateria na maior parte do tempo.

O uso dos processadores próprios nos Macs pode melhorar muito a duração da bateria, ao mesmo tempo melhorando a performance das máquinas. Além disso, os processadores da Apple também possuem co-processadores especializados muito poderosos, como o Neural Engine, utilizado apenas para processamento de machine learning.

Outra questão interessante são os apps de iPhone e iPad. Com o Catalina, a Apple tornou possível a portabilidade de apps do iPad para Mac, apesar da diferença de arquitetura do processador. É possível que com a adoção da mesma arquitetura para todos os dispositivos, seja possível no futuro rodar qualquer app de iPhone ou iPad no Mac, sem nenhum tipo de trabalho por parte dos desenvolvedores.

Sem dúvida, a migração para processadores próprios nos Macs será um benefício grande, tanto para usuários quanto para desenvolvedores e, é claro, a própria Apple, que deixará de depender de outra empresa para definir seu roadmap de produtos.

A keynote de abertura da WWDC 2020 será no dia 22 de junho, às 10h (horário de Brasília).

Sobre o autor

Guilherme Rambo é programador desde os 12 anos. Especialista em engenharia reversa, é conhecido mundialmente por revelar os segredos da Apple antes mesmo dos anúncios da empresa, além de programar para as plataformas da empresa.

Sobre o blog

Dos segredos escondidos nos códigos da Apple às tendências do mundo da tecnologia, o blog Entre Linhas aborda semanalmente os temas mais interessantes e atuais do mercado tecnológico sob o ponto de vista do programador Guilherme Rambo.